martes, julio 20, 2010

Palimpsestuosamente

Desde la Ilha de Santa Catarina, Antonio Carlos Santos y Jorge Wolff escriben este análisis imprescindible sobre Manigua, de Carlos Ríos, y lo publican en Bazar Americano:

Para ler Manigua –novela de estréia de Carlos Ríos– o leitor não pode contar com marcos firmes, pilares seguros ou mesmo personagens, no sentido convencional do termo. Assim como as diversas tribos que a atravessam e povoam, a novela “swahili” do escritor nascido em Santa Teresita, na costa argentina, superpõe e desloca sem cessar vozes e imagens, modos de falar, de ver e de viajar, sempre em bandos e em direção à “provincia costera”. Suntuoso espetáculo da vida nua feito de plástico, lixo e papelão, o relato se desdobra palimpsestuosamente (como diria Haroldo de Campos) num antes e depois do “processo civilizatório”. Nesse espetáculo anacrônico e “desgeograficado” (Mário de Andrade), os clãs em trânsito e em guerra permanente carregam consigo toda a tralha tecnológica – celulares, câmeras, tevês – mas reclamam antes de tudo a desregulamentação da antropofagia: “Se habla de despenalización del aborto o las drogas, pero lo que todo el mundo se pregunta es cuando los gobiernos desregularán la antropofagia”. A propósito da antropofagia, o escritor saqueia sem hesitação os arquivos da world wide web, se apropriando de nomes próprios, nomes de cidades e de etnias africanas.

Misturam-se também a voz taína na escolha do título (manigua), a Argentina na epígrafe de Hebe Uhart, os personagens, lugares e comidas africanas para compor uma história, definida pelo próprio escritor como uma “antropologia do desastre”, em um tempo presente que está atravessado por outros tempos, o dos mitos, dos clãs. Trata-se, ao fim das contas, de um filme, ou melhor, da posta-em-ato de um método onírico-mitológico de capturar “imagens acústicas” cujo fim é a escuta, o desenho e a escritura da vida, isto é, da morte. Como disse Plínio, o velho, “entre todas as graças concedidas pela natureza ao homem, nenhuma supera a da morte no tempo oportuno”.

El texto completo, acá.

1 comentario:

ana porrúa dijo...

gracias, muchas gracias desde BazarAmericano.